Em nome da transparência pública,
os Relatórios e Contas dos mais diversos organismos são agora colocados
on-line, disponíveis a toda a comunidade. Infelizmente, quanto muito, a maioria
dos leitores contenta-se com os sumários executivos, remetendo as tabelas
técnicas ao esquecimento, no baú dos seus direitos democráticos. Mas existem
autênticas pérolas redigidas em alguns destes documentos que não deveriam escapar ao cidadão
atento à luz do dia.
Por exemplo, no último Relatório e Contas do Metro do Porto (2010) e no que diz respeito aos instrumentos
financeiros derivados cito o seguinte: “não existe informação disponível, dada
a complexidade (…) das estruturas presentes na carteira de derivados, facto que
apenas possibilita uma avaliação em termos meramente descritivos”.
No contexto
da cratera financeira actual, é bastante reconfortante saber que uma conta desta
natureza nem quantificável é!
Um pequeno esclarecimento: não falo da dívida "formal". Estas contas "escondidas" acrescentam ao valor total final da dívida portuguesa, mas estranhamente ninguém fala desta. Estes instrumentos financeiros em
causa derivam o seu valor a partir do valor de um outro elemento financeiro de
forma a reduzir ou anular o risco da variação do preço de determinado activo –
matérias-primas, acções, obrigações, taxas de juro/câmbio ou índices. Um
“benefício” destes instrumentos, é a sua função como crédito sob disfarce,
escapando assim às normas de contabilidade mas expondo o organismo a uma
alavancagem financeira altamente especulativa.
Mas a dívida oculta não era só na
Madeira? Nada mais errado. De facto somos amadores quando comparados com os
profissionais de brinquedos financeiros. Olhemos para além dos valores da
dívida directa e oficial.
Após as eleições legislativas
nacionais deste ano, foi emitido um despacho da Secretaria de Estado do Tesouro e Finanças (Despacho nº 896/2011-SETF) determinando
o envio de informação detalhada sobre os Instrumentos de Gestão do Risco
Financeiro (IGRF) actualmente contratados pelo Sector Empresarial do Estado
(SEE).
O Relatório do SEE 2011 (Direcção-Geral do Tesouro e Finanças) salienta
que mais de 60% destas operações são contratadas com bancos de origem
estrangeira e numa análise de sensibilidade à variação das taxas de juro estas
empresas públicas apresentam um passivo de operações de derivados na ordem de
1.549.685.000 euros (swaps calculadas em valor Market-to-market). Mais de mil
milhões e meio de euros em passivo do sector empresarial do Estado português,
com especial incidência na área dos transportes pois os maiores prevaricadores
são o Metro do Porto (625.485.000) e o Metro de Lisboa (520.304.000),
organismos que não beneficiam a totalidade do território português.
Neste contexto é evidente que o
ataque às opções políticas na Madeira é desproporcional no que diz respeito às
estratégias financeiras do passado. Num mar de acusações acumula-se muita
desinformação, mas o maior iceberg vem sempre à luz do dia.
RB
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